28 de dezembro de 2012

Dois mil e treze






A cada final de um ciclo, a mesma sensação: a possibilidade de poder fazer melhor, viver mais, querer mais. Em todo fim, soma-se mais uma oportunidade. Enquanto todos comemoram a chegada de um novo calendário, eu agradeço: as pessoas que conheci, os lugares que visitei, as chances que tive, os presentes (materiais e imateriais) que ganhei, as novidades que vivi. Não cabe aqui registrar tudo que eu realizei este ano. E hoje não quero resoluções. Me despeço de 2012 com um sorriso largo no rosto e uma pontada de nostalgia por saber que o tempo, esse efêmero controlador de nossos caminhos, não vai voltar mais. Mas ainda assim, é bom que as coisas sigam seu curso natural. Vão em frente. Por isso, encerro o ano com a mente aberta: ao novo e ao desconhecido. 2012 foi um ano surpreendente e realmente, muito, muito bom. Quase fantástico. Então, apenas agradeço. Mil vezes se preciso. E só faço uma promessa: não vou criar expectativas quanto a 2013. Só quero que ele venha. E, é tudo novo de novo, e de novo. Ainda bem. Tim-tim!

16 de setembro de 2012

Gargalhada




"Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo..."

Guimarães Rosa

Consciência cósmica



"Já não é preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem de deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo de meu corpo..."

Guimarães Rosa

28 de agosto de 2012

Purgatório


Sabe o que não aguento?
Esse limbo.
Esse ser ou não ser, estar ou não estar.
O tal da “eis a questão?”
É que sou 08 ou 80, vai ou racha.
Não gosto de meios termos, meias palavras, meias verdades, metades
Gosto do inteiro.
Da reciprocidade.
Ou nada mais ou todo o resto.

30 de junho de 2012

Decifro-me?


Posso passar anos sozinha que não vou me conhecer. Não me permito. Na verdade, tenho medo. É dolorido, penoso olhar para o avesso de mim. Não sei o que posso descobrir. Todos nós guardamos o mistério de ser, simplesmente, nós mesmos. E é isso que me aflige. Certo quem disse que feliz é aquele que vive na ignorância de não se saber. Eu vou por esse caminho, o mais fácil. Uma fraqueza, admito. Ainda me falta a coragem.

20 de junho de 2012

Constatação 7


O que não consigo falar em lágrimas, transbordo em palavras. Alívio.

10 de junho de 2012

Perda


Fiquei arrasada. Essa é a verdade. Impressionante a fragilidade da natureza humana. E tudo aconteceu tão depressa. Não fazia uma semana e estava tudo bem. Palavras encadeadas. Sentenças formuladas de forma compreensível. Agora não mais. Palavras soltas, visão escura. Os traços de um passado sofrido permanecem difusos na memória. No que resta de uma memória. De que servem as lembranças? Os momentos compartilhados? Se perderam na teia do tempo. O amor, esse continua. Sem distinção. Em todo o momento nos enchia de beijos, abraços, carinho. A fé também. Inabalável. Reverberada em várias graças a Deus. A nós, cabe a tristeza e a paciência. A convivência com uma doença de nome impronunciável. A dificuldade de enxergar a finitude lenta de uma pessoa que é a própria bondade. 

5 de abril de 2012

Invisível


E é esse silêncio e essa solidão que me acompanha no vagar das horas. E é esse peso do vazio que oprime o peito. E é essa angústia calada que cresce. Vejo o mundo em pares, vejo diversão e sorrisos. Vejo o sol brilhar e a vida seguir seu curso para todos. Ao contrário, estacionei. Ou melhor, estou presa em um filme em slow-motion. Fiquei caminhando demais pela sombra e agora não sei trocar o rumo. Ainda não descobri onde me perdi, qual rota tracei errada ou se esperei demais. Parece que a vida não acontece para mim ou eu não aconteço para ela.

6 de janeiro de 2012

Dona Irene

Quando cheguei em sua casa era próximo a hora do almoço. 11h20 para ser mais exata. Me esperava na porta do seu apartamento. Número 802. O tamanho, próximo a 1,50m. Mas a estatura era inversamente proporcional a simpatia e ao sorriso. Me convidou para entrar. O som do ambiente era sobre o assunto que iríamos tratar: a rádio Itatiaia. O dia todo sintonizada. Só desliga quando está dormindo e nos horários das novelas. Ambiente formidável, como define a sua estação de rádio favorita. Móveis antigos. Tão antigos quanto a sua paixão: o Galo. O amor está estampado em cada canto da casa. Assim como as fotografias de família. No corredor, uma radiola. Último presente da sua mãe, que foi embora no dia em que o Brasil ganhou o primeiro campeão brasileiro de futebol. Misto de alegria e dor, comum a todo torcedor atleticano. O papo fluiu rápido, mas durou muito. Exibiu com orgulho os recortes dos jornais, os postêrs do time do coração, os LP’s e compactos feitos pela Itatiaia. São relíquias, que apesar da materialidade e da idade avançada, consegue reviver na memória e expressar em detalhes. Oitenta e oito. Essa idade não é para qualquer um. E que lucidez! Fala sobre futebol melhor do que os jovenzinhos que andam por aí. Chega até a ser invejada, como me mostrou, em um comentário feito por um rapaz, em uma matéria publicada por outro jornal. De uma simplicidade singular, me confessou o seu maior sonho: conhecer a Itatiaia. Ver todas as vozes que lhe fazem companhia a mais de 30 anos. Afinal, mora sozinha: ela, Deus, as lembranças, a rádio e o Galo. Coleciona pequenos troféus, como o chaveiro que ganhou das mãos de Telê Santana, em 1971. Desse, ela não vai desgrudar nunca. Nem quando fizer a passagem. Tanto carinho, dedicação e histórias davam para montar um museu. Pôs a radiola para funcionar e ouvi paródias antigas que enalteciam o Galo. E escutei a cobertura da visita do Papa João Paulo II, em 1980, na voz de Zé Lino. Com a esperteza, que só a sabedoria é capaz de nos dar, tem um plano. Mostrar ao dirigente do Atlético todos os seus guardados e exigir um “Galo de Prata”. Ela merece, oras! Depois de uma vida toda devotada ao Carijó. Com o calor, me ofereceu um refresco ou um Mate Couro. Recusei. As suas palavras me bastavam. Posou para as fotos como quem já estava acostumada com a fama, segurando a bandeira alvinegra. Dona Irene. Pessoa ilustre. Encantadora. Merece muito mais que um troféu de prata. Merece um troféu de ouro pela simpatia e solicitude. Mas, sinto muito Dona Irene, quem ganhou o prêmio hoje fui eu, por conhecer a senhora. Salvou meu dia. Foi um prazer.