19 de fevereiro de 2010

"Vem andar e voa "

Entrou no ônibus e sentou na última poltrona. Lugar habitual de quem gosta de evitar conversas, dormir e sentir o incômodo sacolejar do veículo. Afroxou o elástico do cabelo, encostou a cabeça na poltrona, fechou os olhos e esqueceu de si. No ouvido, os fones tocavam uma música que adora e tinha esquecido. Fazia muito tempo que não a escutava. Sorriu mentalmente. Tirava o seu cochilo rotineiro até chegar em casa. Sabia todas as curvas, sinais e paradas até o destino final. E foi assim até a hora de parar o descanço dos olhos. Arrumou o cabelo que estava um pouco rebelde devido ao vento que entrava pela janela aberta. Conferiu no espelho o rosto meio amarrotado. Levantou e puxou a corda que avisa ao motorista o momento de parar. Arrumou a mochila no corpo e desceu. Desceu também a rua que levava ao seu lar ainda carregando os fones de ouvido. Nesse dia, carregava também a estranha sensação de descobrir a novidade de algo já antigo. A música despertou as suas lembranças e a sensação de bem-estar que há muito tempo não tinha.




...cabeça

Pulsa.
Lateja.
Eeecccoooaaa.
Explode.
Intensa
Dor
de...

12 de fevereiro de 2010

43º dia

Ah, se essas esquinas falassem...
Você saberia muito mais sobre mim do que eu mesma. Saberia mais a história de várias pessoas que passaram por aqui. Que se perderam por aqui em dias de festa. As ruas estavam cheias. Pessoas sorriam e pulavam ao ritmo de uma música dançante. Contagiosa. Sorrisos eram fáceis de se ver. Estavam saltitantes nos rostos de todos: dos velhos, das crianças, dos jovens e dos adultos. Sem discriminação de cor ou sexo. Não importava se o céu estava colorido de um azul claro vistoso ou pintado de negro, cintilando estrelas. As ruas respiravam o calor humano. Beijos, abraços, carícias trocadas entre desconhecidos e mais que conhecidos. Tudo nas esquinas. De forma leviana. De forma intensa. Aliás, intensidade demais para poucos dias. Dias em que você revelava a sua outra face. Dias inclusive, que você vestia máscaras para se libertar. Fantasias se tornavam palpáveis e nunca esdrúxulas. Dias de entrega: de corpo, alma e moral. Sem preocupações. Aí, de repente, tudo vira cinzas. E a vida volta ao normal. A rotina impera viciosamente. E passam mais 322 dias até ele chegar de novo. Libertador.
Ah! O carnaval e suas esquinas...

9 de fevereiro de 2010

Desejos

Queria poder descansar nos seus braços
E na cumplicidade dos meus carinhos
Te fazer adormecer.
Sorrir contigo, roubar-te um beijo..
Ser então teu desejo interior.

Inconstância


O carro estava parado e ela notou a barba por fazer. O brilho do dia nublado aconteceu apenas nos olhos da moça. Ele a cumprimentou com um belo sorriso e conversaram por alguns minutos. Naquele dia, ele estava mais ríspido que de costume, ou talvez ela estivesse mais sensível. O telefone do rapaz tocou e a moça sentiu ciúmes. A pessoa do outro lado da linha parecia interessante.
Num gesto rápido e inocente, a moça esbarrou-se, e pôde senti-lo, por breves 2 segundos. Ela nunca o havia tocado. Ele desligou e voltou a sorrir.
Enquanto ela voltou a sentir ciúmes. Dessa vez, do vento que bagunçava os cabelos do jovem, deixando sua bela face em evidência.

Não dessa vez



Fico aqui só observando. O mesmo papo, o mesmo tipo,
o mesmo corpo e a mesma mente. O que difere sou eu.
 Por um tempo, busquei as palavras certas para tratar com você.
E agora elas surgem sem intenção. Sem amor? Sem paixão.
Me sinto mais forte.
Dessa vez,  estou só observando.
Dessa vez, prometo não me apaixonar por você.

8 de fevereiro de 2010

Mormaço

Escrevo esses versos, mas não sei ao certo o motivo. Talvez para afastar a solidão física ou espantar a dor da alma. Escrevo porque tenho vontade. Sabe o vazio? Ele me preenche e sufoca. Por isso, escrevo. Não para tentar descobrir o porque de tanta ausência, mas para fugir um pouco de mim. Para escapar. Não porque eu saiba quem eu sou. Aliás, já não me encontro há muito tempo. Na verdade, nunca me achei, nem soube quem era ou o que queria. Não me preocupo em saber, a decepção pode ser grande. Pode ser muito frustante e eu já estou exausta. Escrevo um breve desabafo e pensamentos que insistem em chegar de madrugada. Escrevo no silêncio as vozes que ecoam na minha mente. Escrevo para tentar esquecer e conseguir dormir. Escrevo esses versos não para serem lidos, mas para serem sentidos. Para aliviar a angústia, minha companhia concreta. Escrevo para o vazio. Escrevo sem motivo. Apenas escrevo.

5 de fevereiro de 2010

A fragância da paixão

Inebriante.
Percorre minha face, meu corpo e se instala no meio do cérebro.
Envolve, 
instiga e desconcentra.
Vem devagar, envolto no vento que passa por seu pescoço.
Se mistura à melodia de sua voz e vira alento pro coração palpitante.