30 de dezembro de 2010

"Eu só quero é acreditar"...




"É apenas isto: se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote. Olhos, um coração, dias e vida. Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando... é isso que faz o resto valer." - Morte, de Sandman

Feliz 2011!

24 de dezembro de 2010

Natal

“Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim” - Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Bem no ritmo da bossa nova familiar!

7 de dezembro de 2010

Corrosão

Sinto um vazio não sei de que e nem de quem. Está aqui no peito desde não sei quando.
Dói.

1 de dezembro de 2010

Bloqueio

Tem certos momentos da vida que temos tanta coisa a dizer que o melhor a fazer é permanecer em silêncio.
Sigo calada, preciso de menos sentimentos para que sejam transformados em palavras.

25 de novembro de 2010

Dos afetos

Carência, vontade, ardência. Não necessariamente nessa ordem.

24 de novembro de 2010

Constatação 6

A vida é um monte de ilusões encadeadas em uma sucessão de inutilidades.

Das incertezas e das necessidades de um ano que está logo ali

Novembro já está quase no fim. E por isso, já vemos as luzinhas de natal e as promoções para passar um reveillon em alguma praia com queima de fogos. E, mesmo que mude alguns números no fim do calendário e o seu aniversário caia em outro dia da semana, tudo continuará igual. Ok, talvez nem tudo. Você pode dá um “tapa” no visual pintando o cabelo, trocar de perfume, descobrir novas músicas ou fazer uma mudança mais radical, como trocar de nome ou de país. Porém, no fim de uma semana ou do mês, tudo se adapta e você volta para a cansativa rotina. Com isso, nada escrito nesse texto é novidade (o título deixa isso bem claro). Mas, como gosto de listas (sei que é bobo essa coisa de resoluções de ano novo que só servem para a gente ficar mais frustrada com o desenrolar da nossa vida), resolvi pautar aqui as minhas incertezas futuras (e, por que não presentes?) e o que eu quero em 2011 (sempre gostei mais de anos ímpares, não sei o motivo).
Quero mais descanso. Dormir mais e ter tempo para assistir mais filmes. Ler minha coleção de livros e outros que estão em uma lista já muito empoeirada pelo tempo. Quero não ter um ataque fulminante por causa da monografia. Irei terminar o curso de jornalismo? Queria mais dinheiro, estou cansada de ser uma pobre universitária pobre. Conhecer mais a noite, o dia, as tardes de todas as estações (ui, romântica!). Mais casos, paixões e quem sabe um namorado. Será que o coração será mais feliz no futuro vindouro? Muita música. Shows em BH: terei companhia, grana e tempo para vê-los? Eu queria menos confusão, mais simplicidade, em mim, nas pessoas que convivem comigo, no mundo (temos que ter audácia e esperança, né?). Despreocupar com coisas mínimas. Pregar uma lista no meu espelho com todas as coisas ínfimas que me irritam e mentalizar: isso é tão idiota que não vou me importar mais. Sorrir, sorrir e sorrir. Chorar apenas de felicidade e na TPM (nesse período é liberado). Comer menos, malhar mais. Conseguirei me manter na academia e largar o chocolate? Pouco provável. Deixar de ser estagiária e encontrar um emprego na minha área que assine a carteira. Será assim, tão impossível? Manter o blog (manter o blog?). Abraçar muito: mãe, tios, irmão, avós, primos, amigos, oportunidades, sonhos e conquistas, sejam elas grandes ou pequenas. Cuidar da saúde e continuar tratamentos, como os dermatológicos. Terei coragem para extrair os meus dois sisos restantes? Usar a internet para coisas mais úteis. Vou aumentar as minhas horas em frente ao computador? (Pow, passo mais de oito horas em frente dessa joça!). Ser mais independente e decidida. (Ri alto com essa parte). Rir mais dos meus erros, de mim, continuar sendo irônica comigo mesma, mas ainda assim sorrindo (é de graça =D). Gritar menos, ouvir mais e, quando necessário, fingir que não ouvi e que não falaram comigo. Falar coisas boas, pensar coisas boas. Pensamentos impublicáveis aqui só quando bater o mindinho do pé na quina de um móvel (dói para caramba). Ter sonhos malucos (e praticar alguns deles, por que não?) e ter sonhos que nos fazem querer dormir por horas a fio, e quando acordar, querer voltar neles. Cantar alto, no trabalho, debaixo do chuveiro ou andando na rua. Inventar músicas. Esquecer: as brigas, as mágoas e as horas olhando o céu, seja com a presença do sol ou da lua. Perdoar é fácil? Relaxar e me divertir, pode ser tomando um sorvete a tarde sozinha ou visitando uma amiga. Reclamar menos, mesmo quando eu perder o ônibus a um quarteirão de distância do ponto (aí, ele só vai passar de novo meia hora depois e eu fico mofando). Até mesmo quando for injustiçada? Esperar a hora certa de expor o que eu penso e de calar. E as vozes dentro da minha mente ficaram em silêncio? Olhar mais perto, olhar para dentro, de mim e dos outros. Enxergar além dos olhos. Prestar atenção: nas pessoas, nas coisas, no ambiente ao redor. Fazer uma tatuagem. Estrela ou borboleta? No pé ou na nuca? Desacelerar e terminar tudo o que eu começar a fazer, mesmo que não fique um primor. A sensação de dever cumprido é o que valerá. Deixarei de ser tão exigente? Ajudar o próximo (isso inclui lavar a louça do almoço de domingo para a minha mãe). Ser mais pontual: no relógio e no que eu digo. Diminuir os parênteses e as interrogações. Aumentar as vírgulas e exclamações. Usar o ponto final de forma precisa e lembrar que, às vezes, as reticências dão conta de tudo. Parar de escrever blá, blá, blá por aqui. Vou conseguir? E o primordial: acordar todos os 365 dias de 2011, se não...
Sem mais para o momento, que venha o velho ano novo!

* Aviso esse post ainda não é sobre o ano novo. Ele merece algo mais poético e menos confessional.

17 de novembro de 2010

Amortecedor às avessas

O amor tece a dor
O amor tece
O amor

Amortecer a morte?
Doar a dor?
Ceder ao amor?

A dor tece o amor
A dor tece
A dor

Adormece a dor no amor?
O amor doa a cor?
A morte cede?

.
.
.

3 de novembro de 2010

“Corra Forest, corra !”

Sabe quando você vê todas as pessoas zanzando pela rua e, sem exceção, sabe que elas são e estão melhores que você? Quando você quer fugir, se esconder, sumir, ir deixando de ser aos pouquinhos? Quando nada importa? A sensação de correr sem destino? Fugir para as montanhas? Sabe? Então...

"Quem vai me trazer à tona para respirar,chamar meu nome ou me escutar?" - parafraseando Hebert Viana

7 de outubro de 2010

Entre aspas

"Sabe de uma coisa? Ontem eu estava quase feliz. Por um breve momento, pensei que estava no jogo da vida. Mas apareceu uma pedra no caminho. Por que será que é sempre assim? Quando pensamos que está tudo quase perfeito, a vida dá um golpe na gente".

Charlie Brown (Charles Schulz)

5 de outubro de 2010

Tecidos pelo quase

A vida é feita de quases. Quase certeza, quase verdade, quase realidade, quase amor. O quase são aqueles instantes que duram milésimos de segundos antes de se tomar uma decisão. São impossíveis de descrever. É o frio na barriga, a respiração suspensa, a ação dos sentidos que agem entorpecidos guiando os gestos, o falar. O quase é o esvaziamento do nosso pensar. Quando estamos no quase, sentimos o chão desaparecer e ficamos na expectativa do futuro presente. O quase é a espera de um despertar. Efêmero sentir primordial para manter o bater acelerado do coração humano. Prova de que se vive e que vale a pena.

27 de setembro de 2010

Down em mim

"Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down"

Cazuza. Sem mais.

21 de setembro de 2010

Give up

Cansei.
Não consigo decifrar.
Qualquer dia te devoro...

"Entesourar"

Guardo lembranças materializadas em uma caixa de papelão verde bem no fundo do armário. É verde para reavivar a esperança de um dia encontrar alguém a quem mostrar o meu caminho e poder, enfim, despertar as borboletas presas no meu estômago. Ou até para que, na minha solidão, saiba me suportar. Dentro, pequenos objetos banais. Um guardanapo, um apito, uma embalagem de bombom. Pedaços dos dias bons, dos sentimentos mais singelos que foram trocados. Cada mínimo fragmento pode revelar mais de mim do que qualquer pergunta trivial ou anos de convivência. É impressionante como os cacos de acontecimentos não palpáveis podem construir uma história. Com a sua existência, selecionei os momentos mais especiais da minha vida. E também mergulhei nas recordações dos poucos dias em que a rotina foi, deliciosamente, rompida. Todo mundo tem a sua caixa de Pandora, os seus tesouros mais ocultos e os seus segredos que podem facilmente ser revelados. Ter acesso aos objetos é como fazer um caminho de volta a você mesmo. Se (re)descobrir e ao mesmo tempo se mostrar. Se guardar para quando o mundo não estiver mais presente em você. Ser relíquia para o outro.

8 de setembro de 2010

Intervalo

Entre questionamentos e silêncios
Existe o que eu penso:
Sufoco do que eu sou.

25 de agosto de 2010

Constatação 5

Eu acredito no amor. Desconfiando.

10 de agosto de 2010

Poesia barata

Cata-vento na janela espera a vida a lhe soprar
E o vento cata o tempo que insiste em passar

27 de julho de 2010

Basta

Resolvi simplificar. Chega de adornos para a palavra que é bem melhor no seu estado visceral. Cansei de procurar. Vou com essa vida medíocre, sem mais. Esperando que o AMOR, sem rodeios, apenas ELE, um dia chegue.

22 de julho de 2010

Só.

Solidão
Abandono
Lágrima
Só.
Angústia
Sofrimento
Dor
Só.
Indecisão
Confusão
Grito
Só.
Nada
Vazio
Fim
Só.
Profunda
Absoluta
Solidão
E só.


19 de julho de 2010

Meu dia Alice

"A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.

"Quem é você?", perguntou a Lagarta.

Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.

"O que você quer dizer com isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!"

"Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?"

"Eu não vejo", retomou a Lagarta.

"Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso."

"Não é", discordou a Lagarta.

"Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou, "mas quando você transformar-se em uma crisálida - você irá algum dia, sabe - e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?"

"Nem um pouco", disse a Lagarta.

"Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice, "tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.

"Você!", disse a Lagarta desdenhosamente. "Quem é você?"

O que as trouxe novamente para o início da conversação. Alice sentia-se um pouco irritada com a Lagarta fazendo tão pequenas observações e , empertigando-se, disse bem gravemente:"Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro."

"Por quê?", perguntou a Lagarta.

Aqui estava outra questão enigmática, e, como Alice não conseguia pensar nenhuma boa razão, e a Lagarta parecia estar muito chateada, a menina despediu-se.

"Volte", a Lagarta chamou por ela. "Eu tenho algo importante para dizer!"

Isso soava promissor, certamente. Alice virou-se e voltou.

"Mantenha a calma", disse a Lagarta."




É estranho fazer aniversário. É estranho crescer. Hoje, no dia 19, entrei na casa dos vinte. E pensar em tudo em que eu vivi e no tanto que ainda tenho para viver, é estranho. Hoje posso dizer que estou Alice, afinal, não sei responder quem eu sou.

13 de julho de 2010

Volume.

Ela coloca seus fones de ouvido e aumenta o som no último volume. Tentativa desesperada de abafar as vozes dentro da sua cabeça.

4 de julho de 2010

Quatro de julho

Poderia ser um dia normal, como tantos outros. Mas escolheram essa data para celebrar a independencia dos EUA. Por ironia do destino, hoje também é o dia do Papa, religiosamente contraditório. Mas não são esses os motivos que tornam esse dia marcante para mim. Aliás, há seis anos atrás (quase sete) o dia 4 de julho tinha a sua importância apenas para anunciar a proximidade das férias escolares. Acontece que Deus, o destino ou qualquer nome que se queira dar aos encontros formados pela vida, me fez esbarrar nessa pessoa. E o dia 4 de julho se transformou em uma data especial. Porque foi o dia que o mundo recebeu de presente uma pessoa maravilhosa e amiga. Queria te homenagear de forma diferente, com palavras bonitas ou engraçadas como você. São muitos anos da mais pura e verdadeira amizade. Sem segredos, sem trapaças, com muitos sorrisos, poucas lágrimas. Sem omissões ou mentiras, com muitos abraços, presentes e cumplicidade. Então fiz o ritual de todo ano: liguei, deixei recado e depoimento no orkut, irei a sua casa no dia da festa, mas não muito contente, quis inovar. E resolvi, nesse espaço tão nosso, criado para dar vazão a tantos sentimentos misturados, frustações, romances ou desabafos, te homenagear minha amiga. Te desejar toda a felicidade que um ser humano possa alcançar, toda a beleza que a vida oferece, parabenizar a sua existência! Muitos anos de vida iluminados para você.

Bárbara que é:

"Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica"

E, resumindo:

"Que a paz seja contigo
Eu vim somente dizer
Que eu te amo tanto"

P.S: As palavras de Vinícius -o grande poeta- singelamente, se tornam as minhas.

2 de julho de 2010

Inversamente proporcional

Depois de analisar alguns casos, inclusive pessoais, pude chegar a algumas conclusões a respeito dos homens. Vai aqui algumas considerações.



O homem é inversamente proporcional.

A vontade do homem é inversamente proporcional àquilo que você imagina que seja. Assim como tudo que você fizer para o conquistar é inversamente proporcional ao que ele gostaria que você fizesse. Se você se mostra preocupada e carinhosa, ele sente vontade de alguém que pise nele ou então de uma mulher daquelas bem saidinhas, que o enlouqueça com um simples alô.

No caso de você mostrar-se ou tentar esse lado mais sensual, esse cara, de repente se torna romântico e sensível, e pronto, estamos de novo errando.

Se você resolve ligar pra ele, provavelmente ele te achará uma chata, que não o deixa nem ao menos respirar. Mas experimenta deixá-lo de lado, fingir que não está nem aí. Ele logo se torna carente e já que você não tem procurado, ele se satisfaz com as que estiverem mais próximas.

Se ele se mostra interessado e você também demonstra interesse, esqueça. A partir daí perdeu a graça, você foi muito fácil. Mas quando você se fizer de difícil, justamente esse ser, será muito inseguro, vai te achar metida, ignorante e cansado de tamanha doçura, vai em busca de uma que demonstre logo interesse.

Então a lógica é muito simples. Ao conhecer um homem, imagine o que ele pensa e o que ele quer. Depois, faça tudo inversamente proporcional ao que você imagina  ser o correto, torça para ele não ser inconstante demais e então, pode ser que dê certo.

24 de junho de 2010

Agudo

Acordou assustada, em sobressaltos, na cama. Respiração ofegante e entrecortada. Sufoco. Demorou um pouco para abrir os olhos, que arregalados, contemplavam a escuridão da madrugada. A penumbra cobria suas pernas, ventre, braços, peito, rosto. Agitada, não ordenava os pensamentos. O contato do lençol na pele era insuportável porque o suor frio que lhe escorria pelo corpo grudava em tudo. Asco. A secura da garganta impedia que qualquer fio de voz pudesse sair da sua boca. Estava pálida, quer dizer, sentia que estava. Tremia. O peso da angústia esmagava todo o seu ser. A mente atordoada que o silêncio consumia lentamente a deixava mais apavorada. Ao seu lado, ouviu um grunhido de uma boca masculina que completava a outra parte da cama. Dizia algo quase incompreensível, mas em meio ao seu desespero agudo, significou "o que foi?". Com a voz abafada e cobrindo o corpo todo, apenas deixando os olhos expressivos visíveis, sussurou: "tenho medo de desaparecer". Não foi ouvida e ficou encolhida até a manhã chegar.

10 de junho de 2010

Constatação 4

A gente gosta das pessoas de graça, mas desgostar custa caro.

9 de junho de 2010

Constatação 3

Sempre que mudo de ares, mudo as minhas inspirações. Inconstâncias? Gosto das levezas que elas trazem.

8 de junho de 2010

Mudanças

Vem como um vento sereno

Habita em mim e sacode o meu corpo

Fecho os olhos e só consigo sentir

Pulsação constante do meu ser

Novos horizontes se desenham

Abro os olhos e o que via já não está mais lá

Mudou, assim, de repente

Provando a efemeridade da vida

A instantaneidade do agora

Respiro e o vento já é outro

Sigo em frente, preenchida de incertezas

Apenas certa de que uma leve modificação na atmosfera

Irá configurar uma novidade

Já existe um novo mundo em mim

Alicerce para enfrentar outras batalhas

A cada segundo, um eu diferente brota

E já não sou como era antes

Construções constantes de um ser chamado humano.

2 de junho de 2010

A arte de não saber fazer

Ela estava no 5º período de jornalismo. Aquele período conhecido como o “quinto dos infernos”: você não sabe se fez a escolha certa, fica com várias dúvidas quanto a profissão, se larga tudo e vai fazer um intercâmbio ou trabalhar. Ainda por cima, tem várias tarefas práticas acadêmicas que exigem tempo mental e concreto. Para alimentar mais a sua incerteza, a professora pede para ela escrever uma crônica.

Crônica? Um texto cheio de liberdade e lirismo, que instigue o leitor e mostra de forma irônica, engraçada, poética e sabe mais lá o quê, a realidade. Sinceramente, ela não estava com a cabeça para essas coisas. Não que não gostasse de crônica, mas era melhor leitora e apreciadora do que cronista. Bom, isso ao menos era uma certeza.

Sentou, então, em frente ao computador em uma sala da faculdade. Digitou o seu registro acadêmico e sua senha. Abriu o documento do Word e surgiu aquela imensa tela em branco. Vazia como a sua mente que, desesperada, não sabia sobre o que escrever. O cursor piscava, pedindo incessantemente para que ela digitasse uma palavra. Uma letra. E ela nada. A velocidade do cursor era mais rápida que a ordenação das suas idéias opacas e frias, como o clima que fazia naquela primeira manhã de junho.

Ouvia algumas idéias, olhava para os colegas de classe, compenetrados em frente a tela dos seus computadores, e só conseguia pensar: “Crônica é difícil, como vou tocar os outros com uma coisa simples e ao mesmo tempo complexa?” Para piorar a situação, a professora sentou ao seu lado para ler um jornal. Não qualquer jornal, mas o Caderno 2 da Folha de São Paulo, o bendito que traz sempre crônicas e textos com o viés literário tão almejado e elogiado pelos jornalistas. Situação nada opressora para a pobre coitada que tentava escrever, em vão, uma crônica digna de ser lida.

Rodava a cadeira, digitava palavras toscas e apagava. Parava, olhava para um ponto fixo no teto em busca de um tema, de uma nesga sobre um assunto um tantinho interessante, para que pudesse regurgitar aquelas malditas palavras que precisavam ser encadeadas em formato de uma crônica. Para piorar, a porta da sala onde estava abria e fechava toda hora, entrava gente e um frio que paralisava os músculos da mão e a fluidez do pensamento. Ela perdeu as contas de quantas vezes levantou para fechar a irritante porta. E foi assim, até o fim daquela aula fatídica. Sobrou a ela a frustração e a angústia de não conseguir traduzir um fato banal do cotidiano. Desolada, entregou esse texto, que quem sabe, poderá se disfarçar de crônica e passar despercebido pelo olhar crítico da professora que tanto o aguarda.

31 de maio de 2010

Um dia é dos namorados..fazer o quê?!

Estava no shopping após uma conversa com uma amiga.
Sobre relacionamentos; homens!
Ela me disse algumas coisas e o que deu pra entender
é que eu sou uma completa idiota quando é esse o assunto.
A compreendi perfeitamente e prometi a ela e a mim mesma
que melhoraria neste quesito.
Não deixaria mais homem algum tomar conta da minha mente e
também não fantasiaria demais antes mesmo de qualquer coisa acontecer.
Por longas 3 horas acho que consegui me manter forte, me senti segura,
com esse novo objetivo em mente.
E então estava eu no shopping.
Resolvi entrar na loja de livros para dar uma olhada em algum
que pudesse talvez me ajudar..
Entrei.....
e as prateleiras estavam abarrotadas de cestas com corações,
livros com corações e "amor" espalhado por toda parte.
Saí correndo, sem olhar nada.
Apesar da angústia que me deu, sigo firme, eu acho.

29 de maio de 2010

Há!

A vida,
toda ela,
é uma sucessão de piadas prontas..
Implícitas..
Consegue rir?

28 de maio de 2010

...

Vivo um desassossego entre o corpo e aquilo que não é palpável. Volatilizando o meu ser sigo as torturas do caminho. Os passos titubeiam. Quando me perguntam se estou bem, a resposta é sim. Ouvir dizer que uma mentira contada muitas vezes torna-se verdade. Pois é. Vou insistindo.

13 de maio de 2010

Ideal

Preciso é de um amor para me tirar dessa mesmice. Não um amor que me arrebata e me faça cometer loucuras. Mas um que possa me compreender. Que faça surpresas, de vez em quando. Que chegue sem avisar e de mansinho leve embora o meu tédio. Que seja o feixe de luz no céu cinza de um dia ruim. Que seja simples. Sem muito ciúme. De sorriso fácil. Que goste de música e de cantar baixinho no meu ouvido. Que leia poesias e saiba recitar os versos mais bonitos quando eu me sentir triste. Que tenha braços suficientes para nunca cansar de me envolver. Um amor sem muito estardalhaço. Discreto. Charmoso, como uma xícara de café saboreada em um dia de chuva num lugar aconchegante. De beijo suave e convidativo. Que seja sincero. Que, ao mesmo tempo que me divida com o mundo, tenha uma parte da sua vida reservada só para mim. E, que nesse espaço possamos fazer tudo e nada, mas ainda assim, nos sentirmos plenos. Que me faça esquecer de me ser. Sem exigências. Contraditório e, por isso mesmo, humano. Preciso com urgência.

30 de abril de 2010

Silêncio

Não sabe se foi a carência, a bebida ou a curiosidade. Estava sentada em um bar. Ele chegou mais tarde. Sentou próximo a ela. Conversaram. Riram. Juntos foram embora. Chegaram ao apartamento dela. Ela se deixou beijar. Respirações ofegantes. Sem palavras. Se entregaram aos desejos e as carícias. Os corpos quentes deitados no chão do corredor. Nus. Se entreolharam. Ele se levantou e foi em busca das peças de roupas largadas pelo trajeto que fizeram até ali. Vestiu-se. Deitada e estanque, ela olhava todos os seus movimentos. Ele virou as costas e partiu. Sem dizer o nome. Sem deixar o telefone. A porta bateu de leve. Ela permaneceu deitada. Sentindo a frieza do chão. Observando. Lembrando. Tentando compreeender o motivo. Divagando sem saber se foi a carência, a bebida ou a curiosidade.

27 de abril de 2010

Jogo

Loucamente minha louca mente,
Só mente ao dizer
Que não mais
Pensa em ti
Somente.

A dor da paixão

Alegria que traz um simples alguém
Mas tão logo se vai, se esguia..
E já não tão intensa derrete lentamente
No olhar de ninguém.

Respirando

Despiu-se por completo e ficou de papo com a lua.
A liberdade sob aquele brilho intenso ajudou espairecer.
Sentiu uma leve brisa e fechou a janela.
 Fechou as cortinas, os olhos..
E então adormeceu...

26 de abril de 2010

Indagação

Ela fumava, nervosamente, um cigarro atrás do outro. Mal acendia um, o jogava no chão e pisava em cima. Andava em círculos. Sentia fome, ânsia, raiva. Sentou. Afundou a cabeça entre os joelhos. Passou freneticamente a mão nos cabelos desgrenhados. Não sabia o que fazer. Não era ela que queria ser livre? Dona de si, independente? Não queria fazer o que quisesse quando bem entendesse? Mandar e desmandar no seu corpo e na sua mente a qualquer momento? Estava ali, agora, querendo que alguém lhe dissesse o que fazer. Nem que fosse o cachorro que deitou ao seu lado quando se sentou na calçada. Estava frio. Escuro. Olhou ao redor. Nada. Então fez o que qualquer ser humano faz em uma ocasião dessa. Chorou. Mergulhou em suas lágrimas por um tempo que a racionalidade não permitia calcular. Fungou. O isqueiro acendendo e apagando nas mãos. Levantou. Ergueu o braço e com o dedo em riste apontou para o céu. Praguejou. Falou palavrões que só poderia ter aprendido em um lugar sujo como aquele em que se encontrava. Calou. Acendeu outro cigarro. Lentamente o tragou. Por inteiro. Com os olhos fixos no céu negro jogou a guimba no chão. Pisou em cima. Rodou com força as pontas dos pés para esmagá-lo, como se assim, exterminasse a pergunta que a inquietava. O que fazer? Sem resposta. Retornou de onde viera.

20 de abril de 2010

Transposição

No meio de entulhos de caixas, sacolas com roupas, pedaços de móveis espalhados eu procuro encontrar. As vestes para a semana, os textos da faculdade, o documento que não guardei, a ordem de uma vida que mudou de direção. Achar as coisas materiais está mais fácil do que me achar. E já tem mais de duas semanas que meu universo está fora do lugar. Não porque eu quero. É porque o mundo não pára para você organizar o seu novo lar, assim como não pára para minimizar sua dor ou ostentar a sua alegria. Estamos imersos e alheio à ele. Simultaneamente. O mais controvérsio em uma mudança é o reencontro. Tá certo que me encontrar atualmente anda complicado. Eu bato na porta e ninguém responde. Grito e escuto o eco da minha própria voz. Porém, perdida na loucura de uma mudança, me visitei.

Reencontrei o meu passado. E é engraçado perceber que certas coisas nunca mudam. Como a minha mania de fazer listas para tudo. Para tudo mesmo: livros que já li e quero ler, músicas que quero escutar, filmes que pretendo ver, tarefas que sou obrigada a executar, metas para o novo ano e todas essas baboseiras. Fora isso, o impecilho para eu me desfazer de coisas antigas é enorme: um furador de papel, uma máquina de escrever, uma câmera compacta, tudo de volta ao guarda-roupa. Tenho duas caixas de lembranças que acumulam desde guardanapos a apitos da copa do mundo de 2002. Foram momentos marcantes e ganhei de pessoas que jamais verei novamente. É uma tentativa de não esquecer e de aquecer a saudade. E, enquanto tirava esses objetos das colossais caixas de papelão, o sorriso voltou a brotar em meu rosto, que há tempos estava tenso e estampava preocupações. Fui me redescobrindo e, mesmo acomodada em minha rotina, vi o quanto mudei. Cresci. Não foi uma tarefa fácil, rápida e indolor. O mundo adulto não cria um buffet de recepções para você. Mas aprendi que mudar é descobirir novos caminhos e repaginar os velhos. Não que eu tenha me encontrado totalmente, nem acretido que isso possa ser possível algum dia, e me livrado dessa angústia constante que é (sobre)viver. Só não esquento a cabeça mais para ter tanta certeza, de mim e das coisas. Controlei o incontrolável que é tentar prever o existir. Aprendi a suportar as tormentas e admirar as calmarias. Travessia.

13 de abril de 2010

Passarela

E ela queria saber a sensação de voar...
Parou ali e olhou para baixo.
Fechou os olhos.
Só ouvia o ir e vir dos carros,
Velozes, mortíferos.
Atrás dela, bem longe, ouvia o coro entoando:
"Não faça isso!", "Ajudem!".
Mas ela já não estava mais ali.
Queria se entregar ao abismo profundo, ao sono eterno.
Pensou.
Um passo de cada vez:
Primeiro o direito, depois o esquerdo.
E, assim, alçou vôo...
Para o inimaginável, para o inevitável fim.
Sentiu o vento e mergulhou no nada.

31 de março de 2010

Explicação


Estou sumida daqui. Talvez seja por falta de inspiração, amor ou razão. Talvez possa ser a falta de vontade ou o tempo que insiste correr tanto de mim, que por mais que eu me esforce, não consigo alcançá-lo. O vazio e o desânimo são tão presentes, que antes motivadores para poesias, agora ficam em silêncio. O que me incomodava virava minha válvula de escape. Mas agora, já estou tão habituada que não consigo me desprender desses sentimentos negativos. Talvez a mudança tão necessária, mesmo que tardia, possa abrir caminhos. Não só os concretos, mas os espirituais também. A existência está difícil de suportar e, por mais que eu estampe um sorriso no rosto, ele vem sem emoção e inerte. Algo fixo para não transparecer o que passa na alma. Queria freqüentar mais aqui. Queria sentir o alívio dos justos, sorrir como os despreocupados ou amar como os felizes. Mas no momento não consigo. Simplesmente, não consigo. Estou ausente de mim.

16 de março de 2010

Bulhufas

Tá. E você acha bonito desfazer de mim? Assim, sem mais, nem menos ou meio termo. Logo você, tão divertido, tão descolado, tão criativo, tão tudo, tão único. Nunca esperava isso de você. Na verdade, nunca esperava por você. Só que você chegou. De repente. Sem eu pedir, explicitamente, é claro. Puxou papo, ficou amigo. Povoou o meus dias e as noites também. E eu, boba, me derreti toda (o amor é brega, paciência pela rima mal feita). Fantasiei, desejei, me animei, me entreguei. E depois chorei. Te quis ainda por muito tempo . Sim, confesso. Mas, só porque agora te coloquei na minha caixinha de lembranças, você se vê no direito de me tratar assim? Me desprezar e fingir que não existi? Talvez se você não tivesse me dado corda, até aceitaria. Mas não, você correspondeu, usou, abusou e tirou partido de mim. E agora, fica aí, nesse distanciamento, nesse gelo. Você tá é com saudades e não dá o braço a torcer.Tudo bem. Sem problemas. Eu que não vou ficar chorando minhas pitangas por causa de você. “Me cansei de lero – lero”. Dá licença que eu vou sair de cena, porque do sério já saí faz tempo. E ó: xongas para você.

5 de março de 2010

Degustação

Pode sentar.
Sou todo ouvidos, olhos,
nariz, boca,
pele.
Fique à vontade.

4 de março de 2010

O ato

Eu escrevo.
Nem sempre escrevo o que eu quero.
Algumas vezes escrevo o que pedem.
Eu escrevo.
Nem sempre escrevo o que gostaria.
Algumas vezes é preciso ponderar as palavras.
Eu escrevo e descrevo.
Minh'alma, minhas dúvidas e aquilo que sufoca.
Aquilo que agrada, que instiga e também o que incomoda.
Eu escrevo a vida e descrevo você.
Eu escrevo e ninguém lê.

Conversa de vinte minutos


- É eu acho bacana a gente fazer assim, alguma coisa diferente.
- Eu também.
- Fugir desse engessamento.
- Isso. Talvez não falar só de cultura, aquelas coisas de sempre, mas colocar algo
mais literário...
- Eu acho a cara de vocês
- Mas aqui, peraí rapidinho. Deixa eu fazer uma pergunta para vocês. Qual o papel do filósofo?

...

- Ah, o filósofo pensa a sociedade...
- É, questiona os problemas, reflete sobre a humanidade.
- Ele faz aquilo que a gente deixou de fazer...
- É... pensar. Nos tornamos preguiçosos...
- É, preguiça pura.
- E essa chuva que não acaba? Queria tanto tomar um café!
- Tô é afim de respirar ar puro. Eu preciso disso.
- Mas aonde ?
- Vamos sentar ali embaixo, naquelas mesinhas.

Foram. Puxaram quatro cadeiras e sentaram.
Os três rapazes e ela.
E aí, o tempo passou a correr de outra forma.
Falaram, aos turbilhões:
xadrez, viagens, Rio de Janeiro, alemão, raizes.
Poemas, livros, Saramago.
Um desabafo, ilustrações, boemia, janelas.
Cigarro, fumaça e um "pito" do vigia.
Risadas, jornalismo e as entresafas que a vontade de escrever causa.
Inspirações de várias formas, contraste de estilos
que por serem tão gritantes, se completam.
Só que o tempo, resolveu voltar ao normal.

- Nossa! Vamos subir, já são quase 1o horas.
- Eu tô atrasado, tchau para vocês.
- Vou fazer outro caminho
- Vamos então.

Levantaram. Um partiu, outros desviou a rota e dois seguiram pelas escadas.

- Eu fiquei bobo um dia.
- Por que?
- Vi um cara que tava tão bêbado, que nao conseguia nem articular as palavras...

Risos.

- Sério. Deve ser alcoolatra.
- Cuidado para nao ficar assim.

Entraram na sala e o que aconteceu depois já nao interessa.
Uma conversa de vinte minutos apenas. Mais rica do que se pretendia.
Uma conversa jogada fora, mas nada de menos.

Dedicado aos meus companheiros de faculdade. Conversa do dia 03/03, uma quarta chuvosa e cinzenta, feita para relexões.

Dante, Dante, até quando?

Outra vez está atrasado. Entorpecida espero sua chegada. Uma sensação de êxtase toma conta do meu corpo. Já não consigo formular raciocínios racionais e sei que mais uma vez vou responder qualquer coisa às suas perguntas, assim como não darei conta de dizer o que quero.Eu até ensaiei.
Como ainda posso gostar tanto de você se na minha memória existem apenas palavras e algumas imagens turvas do belo sorriso em seu rosto? Como posso sofrer tanto com sua ausência se nunca tive, de fato, sua presença?
Talvez seja por ter certeza de que nossos destinos sempre estiveram ligados.
Depois de um longo tempo, estou aqui, novamente esperando por você. Quis o acaso ou destino, tanto faz, que fosse hoje. Exatamente um ano após nosso primeiro encontro que não aconteceu. Você liga e diz que está a caminho, havia se confundido. Estava exatamente onde deveria nesse mesmo dia, porém no ano anterior.
Meus pensamentos voam e não sei mais o que espero e porque estou aqui. Vigio o retrovisor. De repente uma voz me assusta. Você chegou e eu logo compreendo por que ainda insisto nisso tudo. O que eu esperava ali? Você. É exatamente o que espero. Meu coração acelera, mas me controlo. O brilho de seus olhos negros secam as lágrimas que quiseram brotar dos meus. O seu sorriso continua encantador.
Nos abraçamos e perco um de meus brincos. Tudo bem. O papo é agradável, mas apenas casual. A timidez atrapalha ambos. Sinto que assim como eu, você tem mais coisas a dizer. Mas o tempo é curto e o resto dos convidados se achegam.
Estou de novo no jogo das entrelinhas, das indiretas, dos poemas escritos, não lidos e do esperar constante. Tento agora decifrar seus códigos. Torço para que dessa vez isso termine logo. Com um final feliz. Ou não.

Baseado no texto “ Um grande amor”, do site http://umpoucodenada.com.br

Eu - Pessoa

Ao som do violino, ela lê Pessoa. O cenário ao fundo parece o retrato da sua alma: céu cinza que derrama gotas de uma chuva fria. Ela está ali e não está. Se perde, se procura, se funde à Pessoa. Ânsia de tudo, desejo de nada. Angústias, desassossegos, incertezas, exaltações. E, mais um dia começa como Eu - Pessoa.

2 de março de 2010

"Bicho"


Ele não estava acreditando até agora. A sensação era fantástica. Um misto de alívio e ansiedade dominavam o seu ser. Era certo de que não conseguiria dormir. Amanhã seria o grande dia. Medicina, na federal não era para qualquer um. E logo de primeira! Não via a hora de começar as aulas. Seus pais estavam orgulhosos, também, tinha dado o retorno dos R$ 500,00 investidos todo mês, por um ano, em um cursinho que ele fazia depois da escola. Não conseguia esconder o sorriso no rosto. É claro que a sua conquista acarretou mudanças profundas: iria sair da cidade e se separar da namorada, seu amor há três anos. Mas estava feliz. Valia a pena. Ia para uma das melhores faculdades do Brasil e nem ficava muito longe de casa. Poderia voltar todo o fim de semana se estivesse disposto a encarar 3 horas de viagem. Ah, amanhã que não chega. Vai conhecer gente diferente, começar uma nova etapa da vida, crescer... Apesar de ser novo, 18 anos, se importava com “essas coisas caretas”. Mesmo tendo uma vida confortável, aprendeu desde cedo que nada vem de mão beijada. Palavras do seu pai, tão fortes, que conseguia ver direitinho ele pronunciando sílaba por sílaba. E ficou divagando até dormir. Acordou com o céu ainda escuro e sem estrelas. Hoje, iria de carro e a viagem ficaria mais curta. As malas já estavam prontas e ficou combinado de seu pai deixá-lo na faculdade, para depois levar a sua bagagem na república, seu novo lar. Despediu com carinho da mãe que chorava de orgulho, alegria e angústia. Da namorada, tinha se despedido na noite anterior, com muitas juras de amor e promessas de telefonemas diários, conversas pelo MSN e afins. A estrada estava tranqüila, só ele que estava agitado. Mexia no banco sem parar. Nenhuma posição estava confortável. Olhava a paisagem que alterava as suas cores entre verde e cinza. Até que, finalmente, chegou. Despediu do pai que passou mais algumas recomendações, desde "divirta-se com responsabilidade" até "não esqueça quem você é". E também, o nada original, juízo. Desceu e ficou estático. Que lugar enorme. Tinha anotado o número do seu prédio e sala, mas não sabia nem por onde começar a procurar. E, bom, a aula começaria em meia hora. Andou muito, mas estava ficando perdido. Queria perguntar a alguém, mas seus colegas tinham avisado para tomar cuidado. Ouviram falar que quando um novato pede informações, eles indicam um lugar errado só para terem o prazer de verem eles mais perdidos. Só que, mais perdido do que estava não podia ficar e não queria chegar atrasado a sua primeira aula. Tomou coragem e perguntou a um jovem:

“Ei, sabe me dizer onde fica o prédio de Medicina?”

“Primeiro dia?.”

“É.”

“Todo mundo fica perdido, mas estou indo para lá. Estou no 4º período e mostro sua sala.”

Ele decidiu acompanhar. Não via problema, o pátio ainda estava movimentado e se percebesse qualquer mudança, sairia correndo.

Andaram até um prédio. Era o de Medicina. "Até que enfim !", ele pensou. Tinha encontrado o lugar e sem qualquer problema. Quando virou para agradecer o rapaz que te ajudou, já se viu caído no chão. Sentia uma dor intensa na cabeça. Passou a mão e olhou. Era sangue o que molhava a sua testa. Tentou se levantar, mas ganhou um chute no abdômen que o fez gritar. Quando abriu a boca para falar, um rapaz a segurou com brutalidade para que ficasse aberta. O cara despejou um líquido. Ele engoliu um pouco e cuspiu o resto. Era amargo e muito fedorento. Com um pouco de consciência que tinha, no meio daquela confusão, percebeu que não era bebida alcoólica. O cheio denunciava ser outra coisa. Recebeu outro chute, dessa vez nas pernas. E também um soco no peito. Rolava no chão, não conseguia respirar nem entender nada. Só via muitos rostos, braços e mãos. Tudo o agredia. Até que sentiu um baque no rosto e mergulhou no escuro. Antes de apagar por completo, ainda pode ouvir risadas e os outros caras gritando “bicho !”, “se ferrou !”.


(,,,)


A ambulância chegou no local. Já havia uma hora que uma funcionária da faculdade, que passou por ali, tinha visto um rapaz desacordado e ensaguentado estirado no chão. Correu e avisou a reitoria, que logo ligou para o 192 e foi para o pátio. Após identificarem o aluno agredido, ligaram para os seus pais. Socorrido, o “bicho”, foi levado para o hospital mais próximo. Estava inconsciente. Tinha sido facilmente abatido. Seu estado era grave: traumatismo craniano e coma induzido. Quando seus pais chegaram ao hospital, não acreditaram na notícia. Viram o filho inerte e dessa vez, as lágrimas da mãe eram de tristeza e desespero. Pediram explicações aos médicos, aos responsáveis pela faculdade e quando a resposta não era "quadro estável", era "vamos investigar quem fez essa bizarrice". No fim, a resposta era uma só: "não sabemos o futuro do seu filho". Foram horas de resistência, mas o animal ferido e coagido não conseguiu. Morreu. Acredito que mais de desgosto, do que de todas as feridas que tinha pelo corpo. Morreu com ele a esperança de uma vida melhor. Morreram os sonhos, viagens, namoros, trabalhos, novos amigos, seus filhos e netos. Morreu a justiça. Os verdadeiros bichos ainda estão soltos, caçando mais filhotes, na alta temporada que o verão traz. Na manhã seguinte, cinza e chuvosa, as lágrimas da mãe eram de raiva e impotência. Sua vida havia silenciado, como outras centenas de vidas no país.

Desabafo



Ás vezes, eu penso: para que lutar, insistir? Ninguém reconhece mesmo. O fim é inevitável. Deslocada, inferior, melhor desistir. Para que? Por que? Indagações sem respostas. Mas aí, vem a vida. Imponente. Me dá um tapa violento na cara, de deixar marca e que arde por muito tempo. Me mostra terremotos e chuvas. Me mostra uma pessoa vendendo agulheiro, desentupidor de gás e isqueiro por um real para sobreviver. Esfrega na minha cara gente dormindo no chão e pedindo esmolas. Gente que perdeu a capacidade de ver, ouvir, falar e movimentar, mas não a de sentir. Gente que existe como eu. Gente que tem desolamentos como eu, que tem desesperos como eu. Gente que apenas espera: uma mão, um olhar, um sorriso. E eu, querendo colocar em um pedestal os meus problemas. A vida me machucou hoje. Me ensinou que a pior perda é não poder sentir. De que adianta ser lúcida e saudável se não consigo sentir o outro? Sou a mais incapacitada de todos. Eles vivem, enquanto eu, privilegiada em muitos aspectos, sofro de uma angústia constante que me suga todo o viço para enfrentar os problemas. Pode ser clichê tudo o que eu disse e, talvez, eu demore muito a mudar. Ou nunca mude. Mas é real e ao menos, serviu para alguma coisa.

Constatação 2

É, cansei de esperar você perceber. Talvez, não era para ser nós, mas sim, eu e você. Um de frente para o outro com o abismo no meio.

19 de fevereiro de 2010

"Vem andar e voa "

Entrou no ônibus e sentou na última poltrona. Lugar habitual de quem gosta de evitar conversas, dormir e sentir o incômodo sacolejar do veículo. Afroxou o elástico do cabelo, encostou a cabeça na poltrona, fechou os olhos e esqueceu de si. No ouvido, os fones tocavam uma música que adora e tinha esquecido. Fazia muito tempo que não a escutava. Sorriu mentalmente. Tirava o seu cochilo rotineiro até chegar em casa. Sabia todas as curvas, sinais e paradas até o destino final. E foi assim até a hora de parar o descanço dos olhos. Arrumou o cabelo que estava um pouco rebelde devido ao vento que entrava pela janela aberta. Conferiu no espelho o rosto meio amarrotado. Levantou e puxou a corda que avisa ao motorista o momento de parar. Arrumou a mochila no corpo e desceu. Desceu também a rua que levava ao seu lar ainda carregando os fones de ouvido. Nesse dia, carregava também a estranha sensação de descobrir a novidade de algo já antigo. A música despertou as suas lembranças e a sensação de bem-estar que há muito tempo não tinha.




...cabeça

Pulsa.
Lateja.
Eeecccoooaaa.
Explode.
Intensa
Dor
de...

12 de fevereiro de 2010

43º dia

Ah, se essas esquinas falassem...
Você saberia muito mais sobre mim do que eu mesma. Saberia mais a história de várias pessoas que passaram por aqui. Que se perderam por aqui em dias de festa. As ruas estavam cheias. Pessoas sorriam e pulavam ao ritmo de uma música dançante. Contagiosa. Sorrisos eram fáceis de se ver. Estavam saltitantes nos rostos de todos: dos velhos, das crianças, dos jovens e dos adultos. Sem discriminação de cor ou sexo. Não importava se o céu estava colorido de um azul claro vistoso ou pintado de negro, cintilando estrelas. As ruas respiravam o calor humano. Beijos, abraços, carícias trocadas entre desconhecidos e mais que conhecidos. Tudo nas esquinas. De forma leviana. De forma intensa. Aliás, intensidade demais para poucos dias. Dias em que você revelava a sua outra face. Dias inclusive, que você vestia máscaras para se libertar. Fantasias se tornavam palpáveis e nunca esdrúxulas. Dias de entrega: de corpo, alma e moral. Sem preocupações. Aí, de repente, tudo vira cinzas. E a vida volta ao normal. A rotina impera viciosamente. E passam mais 322 dias até ele chegar de novo. Libertador.
Ah! O carnaval e suas esquinas...

9 de fevereiro de 2010

Desejos

Queria poder descansar nos seus braços
E na cumplicidade dos meus carinhos
Te fazer adormecer.
Sorrir contigo, roubar-te um beijo..
Ser então teu desejo interior.

Inconstância


O carro estava parado e ela notou a barba por fazer. O brilho do dia nublado aconteceu apenas nos olhos da moça. Ele a cumprimentou com um belo sorriso e conversaram por alguns minutos. Naquele dia, ele estava mais ríspido que de costume, ou talvez ela estivesse mais sensível. O telefone do rapaz tocou e a moça sentiu ciúmes. A pessoa do outro lado da linha parecia interessante.
Num gesto rápido e inocente, a moça esbarrou-se, e pôde senti-lo, por breves 2 segundos. Ela nunca o havia tocado. Ele desligou e voltou a sorrir.
Enquanto ela voltou a sentir ciúmes. Dessa vez, do vento que bagunçava os cabelos do jovem, deixando sua bela face em evidência.

Não dessa vez



Fico aqui só observando. O mesmo papo, o mesmo tipo,
o mesmo corpo e a mesma mente. O que difere sou eu.
 Por um tempo, busquei as palavras certas para tratar com você.
E agora elas surgem sem intenção. Sem amor? Sem paixão.
Me sinto mais forte.
Dessa vez,  estou só observando.
Dessa vez, prometo não me apaixonar por você.

8 de fevereiro de 2010

Mormaço

Escrevo esses versos, mas não sei ao certo o motivo. Talvez para afastar a solidão física ou espantar a dor da alma. Escrevo porque tenho vontade. Sabe o vazio? Ele me preenche e sufoca. Por isso, escrevo. Não para tentar descobrir o porque de tanta ausência, mas para fugir um pouco de mim. Para escapar. Não porque eu saiba quem eu sou. Aliás, já não me encontro há muito tempo. Na verdade, nunca me achei, nem soube quem era ou o que queria. Não me preocupo em saber, a decepção pode ser grande. Pode ser muito frustante e eu já estou exausta. Escrevo um breve desabafo e pensamentos que insistem em chegar de madrugada. Escrevo no silêncio as vozes que ecoam na minha mente. Escrevo para tentar esquecer e conseguir dormir. Escrevo esses versos não para serem lidos, mas para serem sentidos. Para aliviar a angústia, minha companhia concreta. Escrevo para o vazio. Escrevo sem motivo. Apenas escrevo.

5 de fevereiro de 2010

A fragância da paixão

Inebriante.
Percorre minha face, meu corpo e se instala no meio do cérebro.
Envolve, 
instiga e desconcentra.
Vem devagar, envolto no vento que passa por seu pescoço.
Se mistura à melodia de sua voz e vira alento pro coração palpitante.

31 de janeiro de 2010

Verão



Ela estava de olhos fechados. Sentia apenas a brisa leve brincar com os seus cabelos. O cheiro do fim da tarde era tão doce, principalmente, porque a chuva tinha resolvido agraciar a terra. Abriu os olhos e sorriu. Da sacada do hotel via um céu em dégradé laranja de tirar o fôlego. Mas ,o que tinha feito aquela garota respirar irregularmente durante aquelas semanas, não era o sol se despedindo do dia. Nem os perfumes do verão ou os ventos frescos. O motivo desse olhar sonhador e sorriso bobo no rosto era humano. Foi então, que sentiu uma mão cobrir a sua. Assustou-se. Não havia notado que estava sendo observada. Logo ficou calma. Ao seu lado estava o motivo de tanto pensar e de tantos suspiros. Trocaram olhares e ela continuou a admirar o entardecer. Não precisaram dizer palavra alguma. O silêncio explicava tudo. O coração batia em um descompasso muito agradável. Uma nova paixão estava iniciando. Felicidade!


25 de janeiro de 2010

Saudação Celeste

Feito de guerreiros. Guerreiros de uma nação celeste, uma China Azul.
Emoção e paixão imersas em um manto sagrado.
(Con)sagrado por títulos, raça e história.
Berço de craques, casa de reis.
Cinco estrelas que brilham no peito e na alma.
Orgulho de Minas, referência nacional.

CRUZEIRO ESPORTE CLUBE

Olhar

Eu nem tinha notado a sua presença ali. Estava me movimentando em cima daqueles trilhos, ouvindo uma música qualquer no rádio e observando a paisagem que pouco mudava. Foi quando virei o meu rosto e meus olhos trobaram com os seus. Foram dois longos segundos de um olhar intenso que mais pareceram uma eternidade. Desviei, sem graça. Ele deveria ter 1,80 m de altura e trajava uma camisa amarelo claro. Os cabelos eram curtos e pretos, tão pretos quanto a mochila que levava. Ah, os olhos, o pivô de tudo, eram pretos também. Uma beleza comum, sem exageros. E isso foi o que a minha visão míope conseguiu exergar, já que a distância que nos separava era consideravelmente grande. Aí, começou a procura pelos olhares, os esbarros e as trocas. As pessoas eram obstáculos a se vencer, nessa busca dos olhos. Foi assim até a estação final. Me levantei. Saímos por portas diferentes e nos lançamos na multidão que nos aguardava. Eu não olhei para trás e ele de certo, não me procurou. O que sobrou daquele instante foram apenas olhares, vinte minutos de maravilhosos olhares.

22 de janeiro de 2010

Nostalgia

Quero um poema assim,
Facinho de ler
E que lembre as tardes de domingo na casa da vó.
Quero um poema assim,
Cheio de lembranças
Das brincadeiras com os primos nas férias de verão.
Quero um poema assim,
Com aquele cheirinho
De bolo recém saído do forno pela manhã
Quero um poema assim,
Bem singelo
como o abraço e o sorriso sempre abertos de mãe
Quero um poema assim,
Desse jeitinho, bem simplesinho
Que expresse a nostalgia dos meus dias infantis.

13 de janeiro de 2010

Palavras


Às vezes minhas palavras saem como borboletas.

Leves, suaves, coloridas.

Alegram, confortam, arrancam sorrisos.

Outras vezes, minhas palavras saem como uma revoada de pássaros.

Afoitas, gritadas, obscuras.

Ferem, magoam, se misturam com as lágrimas.

Nem sempre as uso na hora certa.

Mas, fico feliz quando elas saem.

Assim, fica mais fácil suportar a minha existência.

Constatação.


Mais doloroso que sentir saudade de quem está longe, é sentir saudade de quem está perto.