Estou sumida daqui. Talvez seja por falta de inspiração, amor ou razão. Talvez possa ser a falta de vontade ou o tempo que insiste correr tanto de mim, que por mais que eu me esforce, não consigo alcançá-lo. O vazio e o desânimo são tão presentes, que antes motivadores para poesias, agora ficam em silêncio. O que me incomodava virava minha válvula de escape. Mas agora, já estou tão habituada que não consigo me desprender desses sentimentos negativos. Talvez a mudança tão necessária, mesmo que tardia, possa abrir caminhos. Não só os concretos, mas os espirituais também. A existência está difícil de suportar e, por mais que eu estampe um sorriso no rosto, ele vem sem emoção e inerte. Algo fixo para não transparecer o que passa na alma. Queria freqüentar mais aqui. Queria sentir o alívio dos justos, sorrir como os despreocupados ou amar como os felizes. Mas no momento não consigo. Simplesmente, não consigo. Estou ausente de mim.
31 de março de 2010
Explicação
Estou sumida daqui. Talvez seja por falta de inspiração, amor ou razão. Talvez possa ser a falta de vontade ou o tempo que insiste correr tanto de mim, que por mais que eu me esforce, não consigo alcançá-lo. O vazio e o desânimo são tão presentes, que antes motivadores para poesias, agora ficam em silêncio. O que me incomodava virava minha válvula de escape. Mas agora, já estou tão habituada que não consigo me desprender desses sentimentos negativos. Talvez a mudança tão necessária, mesmo que tardia, possa abrir caminhos. Não só os concretos, mas os espirituais também. A existência está difícil de suportar e, por mais que eu estampe um sorriso no rosto, ele vem sem emoção e inerte. Algo fixo para não transparecer o que passa na alma. Queria freqüentar mais aqui. Queria sentir o alívio dos justos, sorrir como os despreocupados ou amar como os felizes. Mas no momento não consigo. Simplesmente, não consigo. Estou ausente de mim.
16 de março de 2010
Bulhufas
5 de março de 2010
4 de março de 2010
O ato
Nem sempre escrevo o que eu quero.
Algumas vezes escrevo o que pedem.
Eu escrevo.
Nem sempre escrevo o que gostaria.
Algumas vezes é preciso ponderar as palavras.
Eu escrevo e descrevo.
Minh'alma, minhas dúvidas e aquilo que sufoca.
Aquilo que agrada, que instiga e também o que incomoda.
Eu escrevo a vida e descrevo você.
Eu escrevo e ninguém lê.
Conversa de vinte minutos
- É eu acho bacana a gente fazer assim, alguma coisa diferente.
- Eu também.
- Fugir desse engessamento.
- Isso. Talvez não falar só de cultura, aquelas coisas de sempre, mas colocar algo
mais literário...
- Eu acho a cara de vocês
- Mas aqui, peraí rapidinho. Deixa eu fazer uma pergunta para vocês. Qual o papel do filósofo?
...
- Ah, o filósofo pensa a sociedade...
- É, questiona os problemas, reflete sobre a humanidade.
- Ele faz aquilo que a gente deixou de fazer...
- É... pensar. Nos tornamos preguiçosos...
- É, preguiça pura.
- E essa chuva que não acaba? Queria tanto tomar um café!
- Tô é afim de respirar ar puro. Eu preciso disso.
- Mas aonde ?
- Vamos sentar ali embaixo, naquelas mesinhas.
Foram. Puxaram quatro cadeiras e sentaram.
Os três rapazes e ela.
E aí, o tempo passou a correr de outra forma.
Falaram, aos turbilhões:
xadrez, viagens, Rio de Janeiro, alemão, raizes.
Poemas, livros, Saramago.
Um desabafo, ilustrações, boemia, janelas.
Cigarro, fumaça e um "pito" do vigia.
Risadas, jornalismo e as entresafas que a vontade de escrever causa.
Inspirações de várias formas, contraste de estilos
que por serem tão gritantes, se completam.
Só que o tempo, resolveu voltar ao normal.
- Nossa! Vamos subir, já são quase 1o horas.
- Eu tô atrasado, tchau para vocês.
- Vou fazer outro caminho
- Vamos então.
Levantaram. Um partiu, outros desviou a rota e dois seguiram pelas escadas.
- Eu fiquei bobo um dia.
- Por que?
- Vi um cara que tava tão bêbado, que nao conseguia nem articular as palavras...
Risos.
- Sério. Deve ser alcoolatra.
- Cuidado para nao ficar assim.
Entraram na sala e o que aconteceu depois já nao interessa.
Uma conversa de vinte minutos apenas. Mais rica do que se pretendia.
Uma conversa jogada fora, mas nada de menos.
Dedicado aos meus companheiros de faculdade. Conversa do dia 03/03, uma quarta chuvosa e cinzenta, feita para relexões.
Dante, Dante, até quando?
Eu - Pessoa
2 de março de 2010
"Bicho"
Ele não estava acreditando até agora. A sensação era fantástica. Um misto de alívio e ansiedade dominavam o seu ser. Era certo de que não conseguiria dormir. Amanhã seria o grande dia. Medicina, na federal não era para qualquer um. E logo de primeira! Não via a hora de começar as aulas. Seus pais estavam orgulhosos, também, tinha dado o retorno dos R$ 500,00 investidos todo mês, por um ano, em um cursinho que ele fazia depois da escola. Não conseguia esconder o sorriso no rosto. É claro que a sua conquista acarretou mudanças profundas: iria sair da cidade e se separar da namorada, seu amor há três anos. Mas estava feliz. Valia a pena. Ia para uma das melhores faculdades do Brasil e nem ficava muito longe de casa. Poderia voltar todo o fim de semana se estivesse disposto a encarar 3 horas de viagem. Ah, amanhã que não chega. Vai conhecer gente diferente, começar uma nova etapa da vida, crescer... Apesar de ser novo, 18 anos, se importava com “essas coisas caretas”. Mesmo tendo uma vida confortável, aprendeu desde cedo que nada vem de mão beijada. Palavras do seu pai, tão fortes, que conseguia ver direitinho ele pronunciando sílaba por sílaba. E ficou divagando até dormir. Acordou com o céu ainda escuro e sem estrelas. Hoje, iria de carro e a viagem ficaria mais curta. As malas já estavam prontas e ficou combinado de seu pai deixá-lo na faculdade, para depois levar a sua bagagem na república, seu novo lar. Despediu com carinho da mãe que chorava de orgulho, alegria e angústia. Da namorada, tinha se despedido na noite anterior, com muitas juras de amor e promessas de telefonemas diários, conversas pelo MSN e afins. A estrada estava tranqüila, só ele que estava agitado. Mexia no banco sem parar. Nenhuma posição estava confortável. Olhava a paisagem que alterava as suas cores entre verde e cinza. Até que, finalmente, chegou. Despediu do pai que passou mais algumas recomendações, desde "divirta-se com responsabilidade" até "não esqueça quem você é". E também, o nada original, juízo. Desceu e ficou estático. Que lugar enorme. Tinha anotado o número do seu prédio e sala, mas não sabia nem por onde começar a procurar. E, bom, a aula começaria em meia hora. Andou muito, mas estava ficando perdido. Queria perguntar a alguém, mas seus colegas tinham avisado para tomar cuidado. Ouviram falar que quando um novato pede informações, eles indicam um lugar errado só para terem o prazer de verem eles mais perdidos. Só que, mais perdido do que estava não podia ficar e não queria chegar atrasado a sua primeira aula. Tomou coragem e perguntou a um jovem:
“Ei, sabe me dizer onde fica o prédio de Medicina?”
“Primeiro dia?.”
“É.”
“Todo mundo fica perdido, mas estou indo para lá. Estou no 4º período e mostro sua sala.”
Ele decidiu acompanhar. Não via problema, o pátio ainda estava movimentado e se percebesse qualquer mudança, sairia correndo.
Andaram até um prédio. Era o de Medicina. "Até que enfim !", ele pensou. Tinha encontrado o lugar e sem qualquer problema. Quando virou para agradecer o rapaz que te ajudou, já se viu caído no chão. Sentia uma dor intensa na cabeça. Passou a mão e olhou. Era sangue o que molhava a sua testa. Tentou se levantar, mas ganhou um chute no abdômen que o fez gritar. Quando abriu a boca para falar, um rapaz a segurou com brutalidade para que ficasse aberta. O cara despejou um líquido. Ele engoliu um pouco e cuspiu o resto. Era amargo e muito fedorento. Com um pouco de consciência que tinha, no meio daquela confusão, percebeu que não era bebida alcoólica. O cheio denunciava ser outra coisa. Recebeu outro chute, dessa vez nas pernas. E também um soco no peito. Rolava no chão, não conseguia respirar nem entender nada. Só via muitos rostos, braços e mãos. Tudo o agredia. Até que sentiu um baque no rosto e mergulhou no escuro. Antes de apagar por completo, ainda pode ouvir risadas e os outros caras gritando “bicho !”, “se ferrou !”.
(,,,)
A ambulância chegou no local. Já havia uma hora que uma funcionária da faculdade, que passou por ali, tinha visto um rapaz desacordado e ensaguentado estirado no chão. Correu e avisou a reitoria, que logo ligou para o 192 e foi para o pátio. Após identificarem o aluno agredido, ligaram para os seus pais. Socorrido, o “bicho”, foi levado para o hospital mais próximo. Estava inconsciente. Tinha sido facilmente abatido. Seu estado era grave: traumatismo craniano e coma induzido. Quando seus pais chegaram ao hospital, não acreditaram na notícia. Viram o filho inerte e dessa vez, as lágrimas da mãe eram de tristeza e desespero. Pediram explicações aos médicos, aos responsáveis pela faculdade e quando a resposta não era "quadro estável", era "vamos investigar quem fez essa bizarrice". No fim, a resposta era uma só: "não sabemos o futuro do seu filho". Foram horas de resistência, mas o animal ferido e coagido não conseguiu. Morreu. Acredito que mais de desgosto, do que de todas as feridas que tinha pelo corpo. Morreu com ele a esperança de uma vida melhor. Morreram os sonhos, viagens, namoros, trabalhos, novos amigos, seus filhos e netos. Morreu a justiça. Os verdadeiros bichos ainda estão soltos, caçando mais filhotes, na alta temporada que o verão traz. Na manhã seguinte, cinza e chuvosa, as lágrimas da mãe eram de raiva e impotência. Sua vida havia silenciado, como outras centenas de vidas no país.
Desabafo
Constatação 2
É, cansei de esperar você perceber. Talvez, não era para ser nós, mas sim, eu e você. Um de frente para o outro com o abismo no meio.