21 de setembro de 2010

"Entesourar"

Guardo lembranças materializadas em uma caixa de papelão verde bem no fundo do armário. É verde para reavivar a esperança de um dia encontrar alguém a quem mostrar o meu caminho e poder, enfim, despertar as borboletas presas no meu estômago. Ou até para que, na minha solidão, saiba me suportar. Dentro, pequenos objetos banais. Um guardanapo, um apito, uma embalagem de bombom. Pedaços dos dias bons, dos sentimentos mais singelos que foram trocados. Cada mínimo fragmento pode revelar mais de mim do que qualquer pergunta trivial ou anos de convivência. É impressionante como os cacos de acontecimentos não palpáveis podem construir uma história. Com a sua existência, selecionei os momentos mais especiais da minha vida. E também mergulhei nas recordações dos poucos dias em que a rotina foi, deliciosamente, rompida. Todo mundo tem a sua caixa de Pandora, os seus tesouros mais ocultos e os seus segredos que podem facilmente ser revelados. Ter acesso aos objetos é como fazer um caminho de volta a você mesmo. Se (re)descobrir e ao mesmo tempo se mostrar. Se guardar para quando o mundo não estiver mais presente em você. Ser relíquia para o outro.

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