26 de abril de 2010

Indagação

Ela fumava, nervosamente, um cigarro atrás do outro. Mal acendia um, o jogava no chão e pisava em cima. Andava em círculos. Sentia fome, ânsia, raiva. Sentou. Afundou a cabeça entre os joelhos. Passou freneticamente a mão nos cabelos desgrenhados. Não sabia o que fazer. Não era ela que queria ser livre? Dona de si, independente? Não queria fazer o que quisesse quando bem entendesse? Mandar e desmandar no seu corpo e na sua mente a qualquer momento? Estava ali, agora, querendo que alguém lhe dissesse o que fazer. Nem que fosse o cachorro que deitou ao seu lado quando se sentou na calçada. Estava frio. Escuro. Olhou ao redor. Nada. Então fez o que qualquer ser humano faz em uma ocasião dessa. Chorou. Mergulhou em suas lágrimas por um tempo que a racionalidade não permitia calcular. Fungou. O isqueiro acendendo e apagando nas mãos. Levantou. Ergueu o braço e com o dedo em riste apontou para o céu. Praguejou. Falou palavrões que só poderia ter aprendido em um lugar sujo como aquele em que se encontrava. Calou. Acendeu outro cigarro. Lentamente o tragou. Por inteiro. Com os olhos fixos no céu negro jogou a guimba no chão. Pisou em cima. Rodou com força as pontas dos pés para esmagá-lo, como se assim, exterminasse a pergunta que a inquietava. O que fazer? Sem resposta. Retornou de onde viera.

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