2 de março de 2010

Desabafo



Ás vezes, eu penso: para que lutar, insistir? Ninguém reconhece mesmo. O fim é inevitável. Deslocada, inferior, melhor desistir. Para que? Por que? Indagações sem respostas. Mas aí, vem a vida. Imponente. Me dá um tapa violento na cara, de deixar marca e que arde por muito tempo. Me mostra terremotos e chuvas. Me mostra uma pessoa vendendo agulheiro, desentupidor de gás e isqueiro por um real para sobreviver. Esfrega na minha cara gente dormindo no chão e pedindo esmolas. Gente que perdeu a capacidade de ver, ouvir, falar e movimentar, mas não a de sentir. Gente que existe como eu. Gente que tem desolamentos como eu, que tem desesperos como eu. Gente que apenas espera: uma mão, um olhar, um sorriso. E eu, querendo colocar em um pedestal os meus problemas. A vida me machucou hoje. Me ensinou que a pior perda é não poder sentir. De que adianta ser lúcida e saudável se não consigo sentir o outro? Sou a mais incapacitada de todos. Eles vivem, enquanto eu, privilegiada em muitos aspectos, sofro de uma angústia constante que me suga todo o viço para enfrentar os problemas. Pode ser clichê tudo o que eu disse e, talvez, eu demore muito a mudar. Ou nunca mude. Mas é real e ao menos, serviu para alguma coisa.

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